terça-feira, 31 de julho de 2007

Cinema-em-casa (2ª parte) "O Ilusionista"

Assinado por Neil Burger o seu segundo filme, "O Ilusionista" é um filme dirigido de maneira clássica, lembrando os dramas dos anos 40. Com reconstituição de época impecável, trata-se de um filme elegante. A fotografia, estonteante, valoriza o excelente desenho de produção. Ao mesmo tempo em que tem elementos que remetem aos filmes antigos, "O Ilusionista" tem um argumento cheio de reviravoltas, traições e reencontros.

O ilusionista do título é Eisenheim (Edward Norton). Pobre, cresceu fascinado com pequenos truques de mágica. Cresceu estudando na Europa Oriental, onde aprendeu grandes feitos de ilusionismo. Na viragem do século 19, volta a Viena, sua terra natal, onde reencontra seu amor de infância, Sophie (Jessica Biel). No entanto, ela está noiva do poderoso príncipe Leopold (Rufus Sewell). Entre uma e outra apresentação de magia que sempre esgota os teatros vienenses, Eisenheim tenta reconquistar Sophie, o seu amor e resgatá-la do seu noivo.

Em muitos aspectos "O Ilusionista" assemelha-se ao "O terceiro Passo", o outro filme que foca o mundo dos ilusionistas no século 19. Aqui, o foco está mais voltado ao romance entre os dois protagonistas.
O "Ilusionista" pede por ser credível, ou pelo menos apelar à fantasia. Apesar de explicar vários truques, muitos pontos do filme ficam simplesmente em aberto, como o final, que é um tanto quanto livre em interpretações.

Como não poderia deixar de ser, há alguns pontos fracos. O principal deles é a existência de clichês muito primitivos. O vilão (príncipe Leopold), por exemplo, é caricato demais, um personagem quase que totalmente unidimensional – a sua única motivação é querer o poder durante todo o filme, ainda que para isso ele cometa vários actos estúpidos. O outro ponto fraco a ser citado é técnico. Apesar da estética apurada e o cuidado com os detalhes que a produção certamente possui, o uso de efeitos especiais de computador em cenas-chave do filme incomodam por destoarem. Alguns dos truques de Eisenheim somente puderam ser demonstrados desse jeito, e infelizmente isso tira um pouco do charme e da fantasia que eles objetivavam. Ainda assim, pelo menos, esses efeitos em sua maioria são discretos.



"O Ilusionista" é um interessantíssimo filme. Possui muitas cenas belas e as interpretações de Giamatti e Norton garantem uma certa integridade artística ao filme. Não é tão sofisticado nem engenhoso quanto "O Terceiro Passo", mas é tão divertido quanto ele, e muito mais belo de se assistir (vale lembrar que "O Terceiro Passo" também é dono de uma maravilhosa fotografia).

A história, baseada num conto do escritor Steven Millhauser, envolve e seduz o espectador da mesma forma que fazem os truques de mágica do protagonista com sua platéia, sempre atônita, desenvolvendo mistérios e romance de uma forma elegante. No entanto, essa dinâmica é perdida enquanto caminha para o final, especialmente quando ensaia uma história com fundo sobrenatural. A conclusão de "O Ilusionista", repleta de reviravoltas e revelações – o que não deixa de surpreender a platéia hipnotizada -, é um tanto quanto atropelada, destoando do resto do filme, desenvolvido com tanto cuidado.

Um belo trabalho que deve receber atenção mais justa agora que ambos os dois filmes sobre o mundo do ilusionismo estão disponíveis em DVD.

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