quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Cine-critica: Maschi Contro Femmine (2010)

Maschi Contro Femmine
Machos Contra Fêmeas - A Guerra dos Sexos, parte 1
[2010]


Realização (e co-argumento): 
Fausto Brizzi

Com: Fabio De Luigi, Claudio Bisio, Paola Cortellesi, Alessandro Preziosi, Lucia Ocone, Nicolas Vaporidis, Francesco Pannofino, Carla Signoris, Luca Calvani, Daniel McVicar, Sarah Felberbaum, Nancy Brilli, Giuseppe Cederna, Paolo Ruffini, Chiara Francini, Giorgia Wurth, Luciana Littizzetto, Emilio Solfrizzi...

Sinopse: "A eterna guerra dos sexos é mais uma vez posta à prova em terras italianas, com sangue latino para lhe dar um "picante" extra. Walter e Monica formam um casal que, após o nascimento do seu primeiro filho, luta com as normais dificuldades que a tarefa exige. Como muitos na sua situação, a sua vida sexual não está a atravessar a melhor fase e, apesar de Walter ser um marido dedicado, torna-se cada vez mais difícil resistir às tentações que o seu trabalho, enquanto treinador de uma equipa feminina de voleibol, implica. Além disso, parece que os seus amigos se juntaram para lhe tornarem a vida ainda mais difícil. Uma comédia de costumes seguindo a velha tradição italiana, realizada por Fausto Brizzi."

Trailer:

Ora bem...

Estamos perante uma comédia italiana que aborda a eterna guerra dos sexos, um diptico que nesta primeira parte se acerca do lado dos machos (na segunda parte o lado feminino vai imperar!).

Histórias que se cruzam, em torno das diferenças entre os sexos e o amor, os consequentes problemas conjugais, as resultantes confusões entre eles e elas, colocando diferentes gerações num "ensemble" muito honesto, criativo com os clichés que aborda na sua aparente ingenuidade, continuamente hilariante nas situações que coloca com lógica e com todo aquele charme sexy bem à moda italiana (sim, até não falta alguma desconcertante nudez).

Se à partida o título indica que o foco recai sobre os machos, na verdade o que aqui encontramos é a guerra invisível entre ambos. Se os homens têm coisas a apontar às mulheres, a verdade é que as mulheres também rebatem pela pressão das situações. E o facto (um dos eternos clichés) é que eles estão todos subtilmente (ou não) interligados, sendo mesmo alguns deles pertencentes ao mesmo grupo de amigos, que de tempos a tempos se reúnem para terem momentos só deles com a camaradagem.

Especificando um pouco mais, temos o casal Walter e Monica que acabam de ser pais e isso lhes coloca na situação do arrefecimento sexual da relação. Walter é um treinador de uma feminina equipa sénior de vóleibol, o que o deixa permissível a um caso com uma das suas atraentes atletas, que o vai manipulando para ter com ele uma relação séria.


Depois há o presidente do clube, um homem de meia-idade cuja esposa descobre uma das suas aventuras extra-conjugais com uma jovem amante. Este facto vai deixar a esposa com uma crise de identidade, sentindo-se uma mulher ultrapassada, velha e principalmente sem mais acreditar não ser possivel aceder mais ao amor.
Mais adiante, o filho (único) deste casal de meia-idade, partilha um apartamento com um amigo e uma amiga, apaixona-se por uma bela mulher que também se enamora por ele e não só... porque entretanto, acaba por descobrir que ela é lésbica e vê-se a ter de concorrer o amor dela com uma rival: com Marta, a sua amiga do apartamento (Chiara Francini).

Entre muitos outros casos, sobressai uma outra bastante importante, que é um dos que pertence ao grupo de amigos que se reúnem, o Diego (Alessandro Preziosi), que é um solteirão bem parecido, bem sucedido a todos os níveis (do profissional ao sexual), que é na verdade um engatatão coleccionador de aventuras fortuitas com estrangeiras de origens diferentes. Um dia é surpreendido com uma situação em casa com um dos seus engates e é obrigado a pedir ajuda à sua vizinha Chiara (Paola Cortellesi), uma mulher mais séria e que constantemente o goza. Diego ao entrar na casa dela, tenta seduzi-la e esta recusa todas as investidas dele, algo que Diego não está habituado a serem indiferentes a ele, o que lhe vai obrigar a novas atitudes.


Na multi-facetada confluência de estereótipos, o que "Maschi Contro Femmine" faz com imensa graciosidade é apresentar humor em situações bastante sérias, que bem que poderiam ser tratadas com um dramatismo profundo, mas que aqui se optou (e bem) por desfilar a gravidade das situações com uma pouco habitual humildade, impregnadas de imensa graça, tocando assuntos sérios, como a tentação, o desejo, o adultério, o envelhecimento, a afectação da auto-estima (desde os convencidos aos em crise), a paternalidade (os recém-pais aos pais de jovens adultos) e entre outras observações o factor social, a abordagem às novas condições e libertação da sexualidade (que a questiona com invulgar delicadeza) e as causas pelos animais/natureza.

Todo este mosaico, é apresentado e conduzido, com uma clareza entre os casos, bem construído e que sabe transformar os clichés (típicos de Hollywood) em algo mais que o costume, mesmo que as personagens não deixem de ser "bonecos" estereotipados, conseguimos sempre encontrar neles uma inesperada profundidade. E em simultâneo a tudo isto, consegue abrir já as pistas para a segunda parte deste díptico, pois percebemos que muitas das personagens secundárias (que dão apoio a este mosaico principal) não estão aqui ao acaso (promete!).

Este é daqueles filmes que mais do que pensar em virtuosidade da realização ou outros factores técnicos, recusando-se a intelectualismos e totalmente despretensioso, faz com que "a brincar, a brincar..." se fale de coisas sérias e consegue-o para grandes audiências. É cinema assim que falta ser feito em Portugal: sem almejar ser obra-primas ou mais artísticos mas uma produção que não considera as amplas audiências de burrinha.
Satisfez-me imenso ver este filme italiano no cinema, mesmo que só tenha estreado nas nossas salas nacionais em 2012... continua a ser um belo filme.

Aproveitem para ler a critica à sequela deste filme, o "Femmine Contro Maschiclicando aqui.

a actriz Chiara Francini (que faz de Marta)


7/10
BOM

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